Comments on: A Paixão segundo Orlando https://blogs.dw.com/contraacapa/a-paixao-segundo-orlando/ Sun, 12 Feb 2017 03:03:32 +0000 hourly 1 By: André https://blogs.dw.com/contraacapa/a-paixao-segundo-orlando/#comment-201 Wed, 15 Jun 2016 16:24:57 +0000 http://blogs.dw.com/contraacapa/?p=1797#comment-201 Posso responder a algumas das perguntas feitas no texto.

Segundo dados de movimentos LGBT e do extinto Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, são assassinados por ano no Brasil cerca de 300 homossexuais (às vezes mais, às vezes menos), grande parte deles mortos por outros homossexuais.

Corresponde, portanto, a aproximados 0,5% da média anual de assassinatos em nosso país. O que é dizer: uma média de 6 a 7 assassinatos de gays para cada fim de semana (você se perguntou retoricamente quantos seriam mortos num fim de semana), contra uma totalidade de 1.250 de assassinados em geral para cada fim de semana. Isso é mesmo indício de que o patriarcado monoteísta anda trucidando gays no Brasil?

Não lembro de já ter visto grupos de extermínio de gays, atuantes no Brasil, tendo por integrantes defensores ardorosos do patriarcado monoteísta — nem quaisquer outros tipos de integrantes, na verdade. Mas na Síria e no Iraque, sim, nós os encontramos (assim como o encontraram as vítimas da boate de Orlando). Lá gays são rotineiramente enforcados ou atirados de cima de prédios públicos apenas por serem gays; lá, por sinal, eles nem precisam se dar o trabalho de escolher o local mais apropriado para andarem de mãos dadas no dia dos namorados, simplesmente porque esse lugar não existe. E isso, enfim, é que é realmente trágico, não “os pais”, “a mídia”, “o governo” do Brasil.

Em resumo: você é um rapaz de algum talento; mas a verdade é que nem Turing nem Pasolini nem Lorca, o primeiro um gênio e os dois últimos figuras de imenso talento, seriam capazes de escrever um texto tão piegas tendo por mote dia dos namorados, leitura enviesada de um ataque terrorista e ignorância dos mais básicos dados acerca do problema que quer sugerir, atacar ou tão só indicar. Nenhum artista, a meu ver, tem a obrigação de possuir amplo domínio intelectual de questões prementes do meio social em que vive. Mas, caso se resolva a opinar a respeito, tem então sua obrigação intelectual a cumprir e pela qual deve ser cobrado.

Espero não me tornar suspeito de “homofobia” apenas por lhe ser franco nessas observações (até porque isso seria ofender os gays que tenho entre os meus amigos). Fica aqui a sugestão de que se preocupe menos com ser cool e mais com ser bom poeta e intelectualmente responsável em suas opiniões.

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