Comments on: Carta em Istambul a William Zeytounlian https://blogs.dw.com/contraacapa/carta-em-istambul-a-william-zeytounlian/ Sun, 12 Feb 2017 03:03:32 +0000 hourly 1 By: Daniel Zanella https://blogs.dw.com/contraacapa/carta-em-istambul-a-william-zeytounlian/#comment-155 Sun, 27 Sep 2015 21:00:27 +0000 http://blogs.dw.com/contraacapa/?p=1229#comment-155 Olá, Ricardo.Tudo bem? Você topa republicar “Carta em Istambul…” e a resposta do William na próxima edição impressa do RelevO? Seria uma honra contar com esse duo nas nossas páginas.
Um grande abraço
Daniel Zanella

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By: ivi https://blogs.dw.com/contraacapa/carta-em-istambul-a-william-zeytounlian/#comment-153 Sun, 06 Sep 2015 09:21:46 +0000 http://blogs.dw.com/contraacapa/?p=1229#comment-153 que lindo, ricardo. que lindos vocês dois.

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By: William Zeytounlian https://blogs.dw.com/contraacapa/carta-em-istambul-a-william-zeytounlian/#comment-151 Tue, 01 Sep 2015 17:02:32 +0000 http://blogs.dw.com/contraacapa/?p=1229#comment-151 Caro irmão quase-mais-velho (o Maurício foi o primogênito entre nós),

se Deus existisse, ele teria que se retratar sobre algumas coincidências que são,
talvez, o único motivo de Sua inesperada sobrevida.

Uma delas é essa sua precisa, linda, emocionante carta direto de Constantinopla
que chega no mesmo dia em que minha falecida avó apareceu em sonho para mim.
(aliás, quando viva, ela não deixou UMA VEZ SEQUER de designar a cidade por esse nome).

Acordei de manhã muito confuso, é claro:
eu raramente lembro dos meus sonhos
– a não ser quando eles cindem minha vida –
e não é a primeira vez que eu sonho com mortos.

Escrevi esse poema,
que é algo como a página solta de um inexistente bloco de notas sobre o criado-mudo,
no qual anoto meus sonhos:

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[Diálogo onírico entre a Mãe e o Filho, confuso pela aparição da falecida avó em sonho
no dia 31 de agosto de 2015]

“Mãe, a avó já morreu: eu tenho certeza que avó já morreu.
Eu me lembro de ter chorado sobre o seu corpo,
de ter encharcado seu vestido com copiosas lágrimas
e de ter beijado o seu rosto enregelado.
Lembro-me bem de ter abraçado o caixão de rígida madeira,
de ter sentido e carregado o seu peso atroz
e de ter jogado vários punhados de terra sobre ele.
Isso tudo não foi um sonho, pois o sofrimento
ainda é vivo em mim e inesquecível o dia
de filhos, netos e parentes desesperados de saudades.
Mas eis que a avó está aqui, entre nós,
e, ainda por cima, consegue caminhar!
Agora, enquanto falo, eu não tenho medo, Mãe,
pois é maior o temor que senti quando ela nos deixou.
Eu só estou confuso e não sei mais ao certo
se consigo divisar o umbral que separa
a vida da morte; qual a sua certeza e diferença”.

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São Paulo e Istambul sempre me fascinaram por uma estranha identidade:
as dimensões, a vertigem, essa procela de contradição que você tão bem definiu.

Istambul é a cidade em que você pousa no umbigo de Ataturk
para visitar um templo erigido à Santa Sabedoria.
É estranho pensar o impossível:
o cheiro da carne putrefata dos meus antepassados
se mesclando ao cheiro de chá de maça em Topkapi,
às amêndoas do Bazaar, ao sabor do suco de Romã.

Apesar de tudo, after all, meu antepassados chamariam Istambul de LAR.

Já São Paulo foi o apóstolo que carregou a espada:
a espada que hoje, diariamente, o Duque de Caxias aponta para a Cracolândia
do alto de seu cavalo monumental.

São Paulo,
o apóstolo que um dia escreveu
(em uma carta, também)
um poema que lembra Rilke do Duíno:

‘Ainda que eu falasse línguas,
as dos homens e as dos anjos,
se eu não tivesse a caridade,
seria como bronze que soa
ou como címbalo que tine.
Ainda que eu tivesse o dom da profecia,
o conhecimento de todos os mistérios
e de toda a ciência,
ainda que tivesse toda a fé,
a ponto de transportar montanhas,
se não tivesse a caridade,
nada seria’.

São Paulo,
estupenda e mísera cidade, bebemos de suas contradições
como mamamos da teta de sua também estupenda caritas.

Apesar de tudo, after all, meu antepassados chamariam São Paulo de LAR.

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Se da varanda da sagaz Campilho é possível ouvir os tiros nas barricadas de Kiev,
o tiozinho pedindo o pão nas ruas venezuelanas e sentir o cheiro da pólvora semi-invisível do documento que declara o estado de exceção no sul da Bahia,
quem dirá o que é possível ver do umbigo do Ataturk.

Cuidado meu caro:
como me escreveu Dirceu um dia, citando Goethe como só ele sabe:

‘mehr licht o cacete, goethe estava fora de si ou percebeu q escreveu uma poesia mah o menuh no final da vida. MENOS LUZ, ou a gente frita’.

mas isso já é mera preocupação de seu irmão mais novo
que está ansioso para vê-lo em breve, em SP ou Tiradente ou Kiev

beijos,
w.

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