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França dá sorte no sorteio, mas reclama da Fifa com razão

No final das contas a França deu sorte no sorteio da repescagem das Eliminatórias Europeias para a Copa do Mundo de 2014. É bem verdade, pelo time que possui a França também seria favorita contra Portugal e Croácia, mas convenhamos, eliminar a Ucrânia é uma tarefa mais do que possível. Porém, antes de realizado o sorteio, a Federação Francesa de Futebol reclamou do critério escolhido para definir os cabeças de chave da repescagem. E reclamou com razão.

O critério usado pela Fifa é o mais lógico e premia as seleções que tiveram o melhor desempenho nos últimos quatro anos: o ranking da Fifa. Nada mais justo do que as quatro melhores seleções não se enfrentarem no mata-mata pelas últimas vagas para o Mundial. O problema é que para somar pontos as seleções precisam jogar, obviamente. E é exatamente neste quesito que a França, por mais pífio que os resultados dos últimos quatro anos tenham sido, tem razão em alegar um desfavorecimento.

Como a França estava em um grupo com apenas cinco equipes, consequentemente, tiveram duas partidas oficiais a menos para pontuar e subir no ranking, em comparação com, por exemplo, a própria Ucrânia, que figura exatamente uma posição a frente dos franceses. E uma sexta equipe no grupo francês com certeza seria uma potência do calibre de San Marino, Luxemburgo ou Liechtenstein. Os ucranianos foram cabeça de chave e os franceses não. Façamos um comparativo entre as duas seleções nos últimos quatro anos, ou seja, de setembro de 2009 até a divulgação do ranking atual (período de vigência do ranking Fifa).

A Ucrânia disputou 49 partidas: 30 amistosos – 15 vitórias, 7 empates e 8 derrotas. Foram 3 jogos na Eurocopa – 1 vitória e 2 derrotas e 16 por Eliminatórias para Copas do Mundo – 9 vitórias, 5 empates e 2 derrotas. Ao todo, são 25 vitórias, 12 empates e 12 derrotas.
Já a França disputou 56 partidas: 25 amistosos – 12 vitórias, 6 empates e 7 derrotas. Foram 3 jogos na Copa do Mundo de 2010 – 1 empate e 2 derrotas; 4 partidas na Eurocopa de 2012 – 1 vitória, 1 empate e 2 derrotas; 14 jogos pelas Eliminatórias para a Copas do Mundo – 8 vitórias, 5 empates e 1 derrota e 10 partidas pelas Eliminatórias para a Eurocopa de 2012 – 6 vitórias e 4 derrotas. Ao todo, foram 27 vitórias, 13 empates e 16 derrotas.

Andriy Yarmolenko (esq.) é uma das esperanças da Ucrânia. Aqui disputa lance com Gaël Clichy.

A matemática não deixa mentir

À primeira vista, a França deveria ter mais pontos no ranking. Jogou e venceu mais vezes, além de ter disputado duas competições oficiais que os ucranianos não jogaram: a Copa do Mundo de 2010 e as Eliminatórias para a Euro de 2012. E tais competições valem mais na fórmula da Fifa: P=R x I x S x C

P= pontuação no ranking
R= pontos do resultado do jogo
I= importância da partida
S= força da seleção adversária
C= força da confederação continental (média das duas que se enfrentam)

R= 3 pontos po vitória, 2 por vitória nos pênaltis, 1 por empate ou derrota nos pênaltis e 0 por derrota.
I= x 4 Copa do Mundo, x 3 Copas continentais e Copa das Confederações, x 2,5 Eliminatórias para Copa do Mundo e Copas continentais e x 1 para amistosos. 
S= 200 – posição no ranking dividido por 100
C= Uefa e Conmebol (1 ponto), Concacaf (0,88), AFC e CAF (0,86) e OFC (0,85)

Mas se a França teve mais jogos oficiais, mais vitórias – por que então está atrás da Ucrânia no ranking? Isto porque há ainda um detalhe muito importante na computação dos pontos. Cada um destes últimos quatro anos recebe um peso diferente. Os últimos 12 meses têm um multiplicar de x1,0. E os anos subsequentes com os multiplicadores x0,5 – x0,3 e x0,2. Ou seja, na frente da fórmula básica (P= R x I x S x C) basta colocar para cada ano o multiplicador 100, 50, 30 ou 20. 

O fato da Ucrânia não ter disputado as Eliminatóias para a Eurocopa (era uma das anfitriãs) e a Copa do Mundo de 2010 não possui mais tanta importância no ranking. E sim, muito mais, o fato de ter somado 6 vitórias, 3 empates e 1 derrota em jogos oficiais nos últimos 12 meses e os franceses terem somados 5 vitórias, 2 empates e 1 derrota.  

E no final das contas, são exatamente as duas vitórias da Ucrânia contra o lanterna deu seu grupoe, San Marino, que fizeram a diferença. Mesmo sendo um das seleções mais fracas do mundo, o cálculo é feito da mesma maneira como se o adversário fosse outro time da Europa. Vejamos o cálculo para a última vitória ucraniana por 8 a 0 contra San Marino, 207ᵃ no ranking: 3 x 2,5 x 0,5 x 1= 3,75 x 100= 375 pontos. Desta forma, a Ucrânia somou nestas Eliminatórias 750 pontos a mais que a França (375 de cada vitória contra San Marino).

Yohan Cabaye (6) fechou o placar na Eurocopa de 2012, o último duelo entre as duas seleções

A reclamação francesa, portanto, é válida e legítima. Tivesse a França tido em seu grupo San Marino e a Ucrânia feito duas partidas a menos, os franceses seriam cabeça de chave, e não os ucranianos. Talvez não teria mudado em nada o resultado do sorteio, mas mais importante ainda: tivesse a França tido um retrospecto melhor e não perdido 4 dos 7 amistosos que disputou (Japão, Alemanha, Uruguai e Brasil), estaria hoje em uma melhor posição.

Elencos parecidos com o do último encontro

Fato é também, que nos dias 15 e 19 de novembro França e Ucrânia disputarão uma vaga para a Copa do Mundo. Para os franceses basta manter a supremacia no confronto. As duas nações já se enfrentaram sete vezes, com quatro vitórias francesas e três empates. No último encontro, na fase de grupos da Eurocopa, a França derrotou a Ucrânia por 2 a 0, em Donetsk, gols de Yohan Cabaye e Jérémy Ménez. Se compararmos os convocados das últimas partidas com a daquele confronto na Euro, os elencos são bastante parecidos:
França: 13
– goleiros: Hugo Lloris (Tottenham-ENG) e Steve Mandanda (Olympique Marseille)   
– defesa: Patrice Evra (Manchester United-ENG), Mathieu Debuchy (Newcastle United-ENG), Gaël Clichy (Arsenal-ENG) e Laurent Koscielny (Arsenal-ENG)
– meio: Yohan Cabaye (Newcastle United-ENG), Franck Ribéry (Bayern München-GER), Samir Nasri (Manschester City-ENG), Mathieu Valbuena (Olympique Marseille) e Blaise Matuidi (Paris Saint-Germain)
– ataque: Karim Benzema (Real Madrid0-ESP) e Olivier Giroud (Arsenal-ENG)
Ucrânia: 12
– goleiros:
Andriy Pyatov (Shakhtar Donetsk) e Maxym Koval (Dínamo Kiev)
– defesa: Oleksander Kucher (Shakhtar Donetsk), Vyacheslav Shevchuk (Shakhtar Donetsk) e Yaroslav Rakitskiy (Shakhtar Donetsk)
– meio: Anatoliy Tymoshchuk (Zenit St.Petersburg-RUS), Oleh Gusev( Dínamo Kiev), Andriy Yarmolenko (Dínamo Kiev), Yevhen Konoplyanka (Dnipro Dnipropetrovsk) e Ruslan Rotan (Dnipro Dnipropetrovsk)
– ataque: Yevhen Seleznyov (Dnipro Dnipropetrovsk) e Marko Devic (Metalist Kharkiv)    

Franck Ribéry, aqui marcando o seu golaço contra a Finlândia, é a principal estrela da França

Se no papel, e podemos adicionar a volta de Eric Abidal e a nova promessa francesa Paul Pogba, a França é bastante superior. Mas se formo levar somente os números em consideração, a Ucrânia está invicta em 2013: oito vitórias e dois empates. E tirando os dois confrontos contra San Marino, os ucranianos anotaram 14 gols e sofreram dois em oito jogos. Já a França somou neste mesmo ano quatro vitórias, dois empates e quatro derrotas com 17 gols marcados e 10 sofridos em 10 jogos.

Transpor essa defesa ucraniana será a missão de Franck Ribéry, eleito melhor jogador da última temporada europeia, e Olivier Girou e Karim Benzema, que estão em boa fase nos seus clubes. E já que o sorteio foi bondoso com a campeão mundial de 1998, digamos que, desta vez, os franceses deveriam (e devem) alcançar a classificação para a Copa jogando futebol com os pés, e não como Thierry Henry.

Data

22/10/2013 | 17:53

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