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Jogo do “gol fantasma” não é anulado

O Tribunal Esportivo da Federação Alemã de Futebol (DFB) decidiu nesta segunda-feira (28/10) que a partida entre Hoffenheim e Bayer Leverkusen não será repetida. No último dia 18 de outubro, o Bayer Leverkusen venceu por 2 a 1 com um “gol fantasma” de Stefan Kießling, no qual a bola entrou pelo lado de fora da rede. Por isso, o Hoffenheim entrou com recurso no DFB para obter a anulação e, consequentemente, a repetição da partida. Mas o veredicto do julgamento presidido pelo juíz Hans E. Lorenz, é de que não houve violação de regra, mas, sim, uma decisão factual. E esta, por mais que esteja errada, é intocável e irrevogável.

“O Tribunal Esportivo do DFB é independente. Nós não tomamos nossas decisões para agradar o DFB, a DFL (entidade que administra a Bundesliga) ou a Fifa”. Foram com estas palavras que o juíz Lorenz abriu a audiência, mas no final das contas o veredicto tomado representa exatamente a política e as normas estabelecidas pela Fifa: a decisão em campo do árbitro é sagrada e foi mantida. E o argumento final foi de que o árbitro da partida, Dr. Felix Brych, errou, sim, mas não violou nenhuma regra de jogo. Brych tomou uma decisão factual.

“Ninguém me falou que não foi gol” 

Durante o julgamento, Brych confirmou que o assistente Stefan Lupp lhe deu um sinal confirmando o gol. “As dúvidas iniciais com relação ao voo da bola foram eliminadas com a comunicação com Lupp”, disse Brych, que, pela regra, podia anular o gol até o apito que reiniciou a partida. “Mas ninguém me falou que não havia sido gol”. Brych alegou ainda que ele ficou com a visão do lance prejudicada, que perdeu a bola de vista e só voltou a vê-la dentro da rede. E isto não é desconhecimento da regra ou violação da mesma. É apenas uma decisão errada.

Stefan Kießling, autor do gol, que já havia declarado diversas vezes que também não viu o lance com clareza, manteve seu discurso. “Eu vejo a bola voando em direção ao lado de fora da rede. Minha vista estava bloqueada, não vejo a bola entrar, apenas que ela estava dentro. Meu primeiro pensamento foi que o goleiro desviou ela para dentro. Pensei em muitas possibilidades, mas não de que a rede tivesse um buraco”.

Kießling (mãos na cabeça) e a clara reação de lamentação pelo gol perdido, logo após a cabeçada

Kießling é considerado um esportista leal e muito por isso ele foi poupado de críticas na imprensa e pelo Hoffenheim. Porém, o treinador do Hoffenheim, Markus Gisdol, tocou em um ponto pertinente: “Se não repetirmos a partida, todos os jogadores optarão no futuro por sempre negar a irregularidade, a fim de manter os três pontos. Se a partida for repetida, estaremos fomentando um fair play em campo”. O clube ainda não decidiu se vai entrar com recurso.

Caso Helmer 

Em 23 de abril de 1994, o Bayern de Munique recebeu o FC Nürnberg no antigo Estádio Olímpico de Munique. E aos 26 minutos de jogo, o zagueiro Thomas Helmer, após cobrança de escanteio, se enrolou com a bola e a empurrou, rente a trave, mas para fora. Naquela época o Tribunal Esportivo decidiu pela repetição da partida com a seguinte argumentação: “O árbitro Hans-Joachim Osmers decidiu, apesar de a reação dos jogadores e torcedores implicar que a bola não havia entrado e sem ter perguntado ao assistente Jörg Jablonski, em dar o gol para o Bayern de Munique”. 

Osmers sabia que no segundo toque de Helmer, a bola havia saído, mas tinha dúvidas com relação ao primeiro toque. E quando olhou para o assistente Jablonski, este estava com a bandeirinha levantada. Os dois se comunicaram via contato visual achando que estavam sinalizando o mesmo lance, mas o grande erro, segundo o tribunal, foi o árbitro não ter ido perguntar o porquê da bandeira estar levantada. Ou seja, ele transferiu a decisão de dar o gol ou não ao assistente, sem saber de qual lance ele estava levantando o instrumento. Neste caso, a decisao factual foi eliminada e uma violação de regra, a de que a bola não ultrapassou a linha da meta, anulou o jogo. Com esta argumentação, o Tribunal Esportivo manejou a repetição daquela partida. E este erro de comunicação entre árbitro e assistente não houve em Hoffenheim: os dois viram a bola dentro do gol e se comunicaram claramente. 

Lance do “gol fantasma” de Thomas Helmer (encostado na trave), no jogo que viria a ser repetido

Tecnologia da linha do gol, já!

Cada vez mais a pressão pela implementação de uma tecnologia, que identifica se a bola entrou ou não, está ganhando voz. E de fato, para evitar tais discussões e injustiças, esta é a única saída. O esporte não vai perder seu charme ou sua fluidez. É preciso acompanhar a modernidade e a velocidade do jogo. É preciso deixar de ser antiquado e, ao menos nos lances de validação de gol, possibilitar a existência de uma rápida comunicação do árbitro com um oficial da liga ou da federação que, através de analise de vídeo e computação gráfica, possa dar o veredicto no momento do lance. E não como hoje em dia: uma semana depois em um tribunal.

O juíz Lorenz fechou a audiência desta segunda-feira, reivindicando exatamente esta evolução, à qual a única que se opõe é a Fifa e a identidade que regula a regras do futebol: a senil International Board: “Precisamos começar a pensar seriamente sobre a tecnologia da linha do gol. Modalidades como o hockey no gelo estão muito mais evoluídos, neste quesito, do que o futebol. Eu apoio totalmente a implementação desta tecnologia para aliviar a pressão sobre os árbitros”.

Data

28/10/2013 | 20:32

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