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Svetlana Alexievitch deu voz aos sobreviventes de catástrofes do século 20

Acaba de ser anunciado em Estocolmo o Prêmio Nobel de Literatura de 2015: a prosadora e jornalista Svetlana Alexievitch. Nascida na então União Soviética na cidade de Stanislav, hoje Ivano-Frankivsk, na Ucrânia, a escritora e jornalista tem passaporte bielorrusso. Há algum tempo meu amigo Emanuel John, um jovem filósofo alemão, vinha recomendando o trabalho dela para mim, elogiando sua “prosa poética, lacônica, e política, totalmente propícia para nosso tempo”. Ele a considera um dos grandes autores de nosso tempo. Graças a ele, pude ler apenas páginas do livro As Últimas Testemunhas: Crianças na Segunda Guerra Mundial, com relatos de sobreviventes infantis entre os escombros. É leitura perturbadora.Picture 1

Seu livro mais conhecido talvez seja A Face Nada Feminina da Guerra, de 1985, mais uma vez voltando-se para aqueles que sofrem com os grandes acontecimentos da História, ainda que distantes de palácios e trincheiras. O livro salva as vozes das mulheres em meio à Segunda Guerra Mundial. Não creio jamais ter ouvido falar de uma tradução sua para o português. Mesmo a edição americana de A Face Nada Feminina da Guerra está esgotada e passou a custar uma fortuna imediatamente após o anúncio do prêmio.

Destinado a autores que tiveram não apenas um impacto literário, mas político, segundo as próprias palavras arrependidas de Alfred Nobel, milionário da pólvora, o prêmio catapulta para os holofotes uma escritora que trata a literatura como testemunho, dando vozes para os mortos e para os sobreviventes impotentes.

Premiar um autor do antigo círculo soviético tem seu valor político neste momento. Ainda que a censura seja proibida em Belarus (Bielorrússia), há uma lei que prevê cinco anos de detenção a quem insulte o presidente. Criticar o país no estrangeiro pode levar a dois anos de cadeia.

Enquanto isso, a região segue em verdadeiro pé de guerra. Nascida em uma cidade importante da Ucrânia hoje, com nacionalidade bielorrussa e escrevendo em russo, a autora trará por alguns dias a atenção mundial uma vez mais para uma crise que se desenrola perante nossos olhos, enquanto tragédias ao sul ocupam a política europeia.

Voltarei hoje ao volume As Últimas Testemunhas: Crianças na Segunda Guerra Mundial, em alemão, e aguardarei a reedição anglófona de A Face Nada Feminina da Guerra, com uma esperança tênue de que o Brasil também receba a escrita da autora.

Data

quinta-feira 08.10.2015 | 09:37

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