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Tradutora de Angélica Freitas recebe prêmio nos EUA

Estes dois últimos anos têm sido de redescoberta da Literatura Brasileira nos Estados Unidos e no mundo anglófono em geral. Talvez redescoberta seja impreciso ou exagerado, já que não se sabe se realmente a descobriram de forma ampla em algum momento. Nas duas últimas décadas, algumas coleções dedicadas à Literatura latino-americana trouxeram, entre outros, Machado de Assis aos norte-americanos em cuidadas edições. Autores como Susan Sontag e cineastas como Woody Allen se declararam fãs. E o ano passado foi certamente de Clarice Lispector.

Rilke ShakeApenas esses dois já nos representariam muito bem no cânone mundial, ainda que críticos reivindiquem espaço para outros excelentes escritores, como João Guimarães Rosa e Lúcio Cardoso, com catataus que certamente impressionariam os gringos se um tradutor louco e genial conseguisse verter com justice para o inglês obras como Grande Sertão: Veredas e Crônica da Casa Assassinada. Mas já tratamos de tudo isso neste blog.

Hoje quero celebrar o fato de que Hilary Kaplan, a tradutora norte-americana de Angélica Freitas, recebeu o prêmio Best Translated Book Award (BTBA) por sua tradução de Rilke shake, lançado no Brasil pela poeta gaúcha em 2007, na coleção de poesia contemporânea capitaneada por Carlito Azevedo para a finada Cosac Naify. A tradução foi lançada nos Estados Unidos pela Phoneme Editions e já havia concorrido ao prêmio PEN de tradução de poesia. Mas, desta vez, levou a estatueta (se a há) e a soma de 5.000 dólares para autora e tradutora. Em prosa, o prêmio foi para outra tradutora de um autor latino-americano, Lisa Dillman, por sua versão do romance Signs Preceding the End of the World, do mexicano Yuri Herrera.

Em artigo de um dos jurados, Tess Lewis, o prêmio ao livro de Angélica Freitas foi recomendado porque sua “antiga irreverência e licença poética exuberante são contagiantes, mas não ocorrem em detrimento da profundidade”.

Sobre o trabalho da tradutora Hilary Kaplan, a jurada escreveu que “ela fez justiça aos poemas de Freitas, capturando as muitas mudanças de tom nas linhas e nas entrelinhas, de lúdico e irônico a sardônico e patético e até mesmo sentimental, para inexpressivo e de volta para brincalhão, às vezes dentro de um único poema”. “Fica claro que ela leva a poesia muito a sério para não desmantelá-la e usá-la para seus próprios fins”, prosseguiu.

Em prosa, concorriam ao prêmio os tradutores de autores festejados como José Eduardo Agualusa, Elena Ferrante, Mercè Rodoreda e a própria Clarice Lispector – a tradutora Katrina Dodson venceu há pouco o prêmio PEN por sua tradução dos Contos Completos, agora lançados no Brasil), ao lado dos tradutores de autores mais jovens, como Valeria Luiselli e Fiston Mwanza Mujila. Em poesia, a lista era também bastante variada, incluindo livros de poetas como Yevgeny Baratynsky, Silvina Ocampo e Yi Lu.

A gaúcha Angélica Freitas é uma das poetas da minha geração que têm garantido um lugar firme na boca e nos olhos dos leitores de poesia deste novo século, ao lado da mineira Ana Martins Marques e da portuguesa Matilde Campilho. Este prêmio é uma boa notícia para ela, para a poesia escrita por mulheres no Brasil, e para todos nós que as lemos com atenção e admiração.

Data

sexta-feira 06.05.2016 | 09:59

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