Os novos nomes da fotografia documental na Alemanha
Saiu no início deste mês o terceiro número da revista alemã FOG – documentaries dispersed, tanto impressa como digital, que se dedica à jovem fotografia documental do país. A revista é dirigida pelos jovens fotógrafos Kevin Fuchs, Jakob Ganslmeier, Ulja Jäger, Sebastian Jehl, Roman Kutzowitz e Hannes Wiedemann, que publicam nela seus trabalhos e convidam os novos nomes da cena para cada edição.
O terceiro número traz séries de Jakob Ganslmeier, Ivette Löcker, Hannes Wiedemann, Andrej Kolenčík, Yvette Marie Dostatni, Nigel Poor, Robin Hinsch, Ludwig Rauch, e Adelaide Ivánova, a fotógrafa e escritora brasileira radicada na Alemanha. Com um trabalho gráfico muito bonito, a revista é um primor em suas imagens e textos. Todo número traz uma impressão original da foto de capa que, no caso deste terceiro número, é de Adelaide Ivánova, da série dedicada à sua avó nonagenária vivendo no Recife.
A revista inova também em sua forma de financiamento. Foi um dos primeiros projetos artísticos que vi recorrer ao crowd funding com sucesso. Além disso, os editores têm sabido resolver os conflitos entre o trabalho editorial impresso e digital, recorrendo à estratégia de oferecer uma impressão muito bem cuidada, mas sempre acompanhada de um código de acesso ao conteúdo oferecido apenas em forma digital.
Este número traz desde uma série de Jakob Ganslmeier sobre as periferias de cidades da Polônia a uma série impressionante de Ludwig Rauch sobre a juventude neonazista nas periferias da Alemanha.
Jakob Ganslmeier, aos 26 anos, é um fotógrafo de grande talento para o documentário, e já havia chamado a atenção por sua série dedicada a soldados alemães sofrendo de transtorno de estresse pós-traumático após servirem no Afeganistão.
Robin Hinsch, com sua série sobre a Ucrânia, é outro fotógrafo que já vinha chamando minha atenção. Na página da revista, é possível assistir a um vídeo de Andrej Kolenčík, permitindo que a revista dedique-se ao trabalho documental em vários formatos.
O trabalho de Adelaide Ivánova traz alguma luz às trevas documentadas pelos alemães. Conhecida já de revistas brasileiras e estrangeiras, com um trabalho excelente também como poeta, a recifense retrata o dia-a-dia de sua avó Adelaide, hoje com 94 anos, com uma graça e uma leveza líricas que nos lembram por que se deve lutar contra os cenários retratados pelos companheiros alemães da revista.
Muitos dos fotógrafos ligados a FOG são formados na escola da agência alemã Ostkreuz, talvez a mais importante agência de fotógrafos do país, reunindo profissionais como Marc Beckmann, Sibylle Bergemann, Jörg Brüggemann, Harald Hauswald, Ute Mahler e Werner Mahler, entre outros, de diversas gerações da fotografia alemã contemporânea.
Os editores dizem querer trabalhar na fronteira entre o conteúdo e a estética. É uma maneira interessante de aplicar o velho conflito entre forma e conteúdo. No trabalho fotográfico alemão, esta ânsia documental-artística pode ser vista desde os primórdios da fotografia alemã, com o grande August Sander, passando pelo casal Bernd & Hilla Becher, até chegar aos dias de hoje com nomes como Wolfgang Tillmans, Andreas Gursky e Heinz Peter Knes.
Acompanhar esta nova revista, me parece, nos dará boas dicas sobre quais nomes estarão fazendo a fotografia alemã brilhar na década que segue.