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Alguma escrita berlinense internacional

antologiaHoje (26/07) ocorre, na tradicional cervejaria Alt Berlin, o lançamento da antologia Your + 1: some Berlin-based international writing (Gully Havoc, 2016), que eu editei e reúne uma parcela da cena literária internacional em Berlim. O volume traz contos, poemas e letras de canções de brasileiros como Adelaide Ivánova e Érica Zíngano, britânicos como Leila Peacock, Annika Henderson e Hanne Lippard, o irlandês John Holten, os americanos Shane Anderson, Christian Hawkey e Jennifer Nelson, o ucraniano Serhiy Zhadan, a israelense Maya Kuperman, o australiano Luke Troynar (vocalista da banda Bad Tropes), o islandês Eiríkur Örn Norðdahl, e vários outros. É uma cena bastante viva e ativa, e percebi como seria impossível fazer um panorama de todas as cenas em um único volume. O segundo, que deverá trazer entre outros o sírio Abud Said, já está sendo preparado aos poucos.

Berlim tem uma posição sui generis no cenário ocidental, diferente de Paris ou Nova York. Já escrevi a respeito disso aqui [“Alemães e estrangeiros na cena literária berlinense”]. Tudo aqui parece um pouco marginal, fora da moda. Para alguns, é uma cidade atrasada, por não seguir sempre e exatamente o que Londres ou Nova York estão celebrando em termos de música, por exemplo. Eu prefiro pensar que Berlim simplesmente segue o seu caminho. Vai embrenhando-se nas possibilidades da música eletrônica quando Londres parece não se cansar das mesmas notas e solos de guitarra. Todo este tecno cansa, às vezes, é claro. Sou um apaixonado por cancioneiros, e há muito menos disso por aqui do que em outros países. Talvez seja uma dificuldade linguística. O mundo jamais se acostumou de verdade a canções em alemão como o fez com canções em inglês, ou mesmo em francês. Com a exceção de alguns exemplos como o duo Stereo Total no começo do século, as poucas bandas alemãs que têm demonstrado possibilidades de inserção mundial concentram-se em letras em inglês, como os meninos do grupo Sizarr e do duo Lea Porcelain. Um fenômeno alemão e em alemão como Deichkind jamais chegou realmente a ouvidos internacionais.

Esta mesma dificuldade separa as cenas literárias alemã e estrangeira na capital do país, assim como impede que um jovem autor alemão chegue a leitores internacionais facilmente. Qualquer escritor americano é imediatamente legível em qualquer parte do mundo, já que tantos leitores ao redor do globo têm o inglês como segunda língua. Mas, aos poucos, vamos todos nos aproximando. Levando estrangeiros aos alemães, e alemães aos estrangeiros. Hoje à noite, por exemplo, após os estrangeiros apresentarem seus textos em inglês, hebraico, português, sobe ao palco o jovem produtor alemão Nelson Bell, que se apresenta como Crooked Waves, para seu primeiro concerto. Temos muito o que aprender uns com os outros.

Data

terça-feira 26.07.2016 | 10:23

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